José António Abreu @ 13:44

Qui, 09/08/12

«No fundo, não és assim tão diferente de outras pessoas. Também sonhas com uma relação perfeita.»

«Não.»

«Então?»

«Não existe tal coisa. Foi o que te acabei de dizer. Pelo menos entre duas pessoas de carne e osso.»

«Sim, já sei: só entre uma pessoa e coisas

«Pelo menos estiveste a ouvir. Mas não só. Também é possível entre uma pessoa e uma imagem. Pensa na Charlize Theron. Agora pensa que estás na cama com ela. Que fantasia fantástica, hã? E podes tê-la milhares de vezes, durante anos, sempre perfeita. Sabes porquê? Porque não conheces a Charlize Theron.»




José António Abreu @ 20:20

Qui, 10/05/12

Pergunto-lhe: «Posso ser sincero?»

«Pensei que estávamos a ser sinceros.»

«Isso tudo, essas tuas teorias, são só fachada.»

Desta vez sorri abertamente. «Fachada? Lá no fundo, sou um romântico, é isso que queres dizer»

«Nem mais

«Sabes o que é o romantismo?»

Suspiro. «Nem vou tentar responder. O que é?»

«Querer o impossível. A perfeição, eternamente. Ora eu quero a perfeição. Mas sei que a perfeição é frágil. Que é impossível mantê-la eternamente.»

«Então és um quê? Um mezzo-romântico?»

Solta uma gargalhada. Diz: «Boa.» Mas depois fica sério e parece considerar seriamente a questão. «Não se deixa de ser romântico por saber que o impossível é, por definição, impossível. Ponhamos as coisas da seguinte maneira:  não acreditando que seja possível amar para sempre, acredito que é sempre possível amar.»

«Vai-te foder.»

Ri-se.




José António Abreu @ 13:42

Qua, 29/02/12

«Já te apaixonaste?»

«Muitas vezes.»

«Como é que consegues, com essas teorias? Afinal, sabes que a coisa está condenada ao fracasso.»

«'Fracasso' é o que tu lhe chamas. A paixão é um estado transitório sem prazo definido. Eu limito-me a aceitar que tem prazo.»

«Convém que elas também o aceitem.»

«Comigo, aceitam sempre. Aliás, com frequência são elas quem chega à conclusão de que o prazo foi atingido. As mulheres não são más nessas coisas. Mas na maioria das vezes nem me apaixono por uma mulher completa e sei imediatamente que aquilo vai durar pouco.»

«O que diabo queres dizer com isso?»

«Apaixono-me por um sorriso, uma frase, um par de mamas. As mulheres são sempre menos interessantes do que as suas melhores partes.»




José António Abreu @ 23:11

Ter, 07/02/12

Digo-lhe: «Não admira que não sejas casado.»

«Por acaso, até admira.»

«Com essas ideias?»

«Precisamente. A maioria das pessoas casa na ilusão de que, fazendo-o, pode escapar a ideias como estas. Depois passa a vida a escondê-las do parceiro.»

«Ora.»

«As ilusões românticas duram pouco. Olha para o lado – o que vês? Casamentos de fachada. Idas ao shopping e uma quinzena no Algarve em Agosto. E montes de ideias como as minhas, escondidas na rotina e nas convenções. O casamento é uma tentativa, ingénua ou estúpida (se é que uma coisa não equivale à outra), de não as enfrentar.»

«Caramba, não consegues ter um pensamento optimista?»

«Consigo.»

«E?»

«Nada. Consigo.»




José António Abreu @ 23:08

Ter, 13/12/11

 «Então não acreditas no amor eterno?»

«Por uma mulher, não. Acredito no amor eterno por outras coisas.»

«Outras coisas

«Por coisas, pronto. És muito sensível, tu.»

«Só junto de ti. Exactamente o que é que queres dizer com isso?»

«É possível gostar de um livro ou de um filme ou de um carro para sempre. Fazê-lo só depende de nós; eles não mudam.»

«Preferes então que não te questionem?»

«Não. Os livros e os filmes colocam questões» Afaga o copo de cerveja. «Mas prefiro coisas que me deixem responder.»




José António Abreu @ 22:40

Seg, 21/11/11

Diz: «E houve a minha prima.»

«Fizeste sexo com a tua prima?»

«Arlete. Era bastante feiinha. Na verdade, ainda é mas agora já não fazemos sexo. O marido que trate do assunto, coitado.»

«E tens uma explicação?»

«Éramos miúdos. No início da vida sexual, a regra é só uma: arranja-se o que se pode. Aliás, muita gente nunca se liberta dela.»




José António Abreu @ 08:42

Ter, 08/11/11

«Nunca tiveste relações com mulheres pouco atraentes?»

Sorri. «És um portento de correcção, tu: nem és capaz de dizer ‘feias’.»

«Talvez. Mas então? Tiveste ou não?»

«Poucas. Mas sim, tive.»

«O que te atraiu nelas, se não foi o corpo nem a mente?»

«Aconteceu quase sempre em circunstâncias especiais.»

«O que queres dizer com isso? Não havia outras disponíveis?»

«Boa! Estás a melhorar. Mas não. Digamos que, no momento, elas não estavam feias, pelo que admito que também conseguissem transmitir alguma inteligência.»

«Desculpa?»

«Eu estava bêbado.»




José António Abreu @ 08:09

Qua, 26/10/11

Pergunto-lhe: «Não há então mulheres que permaneçam interessantes após muito tempo de relação?»

«Não.»

«Nem que pareçam chatas quando ainda não se dormiu com elas?»

«Isso há.»

«A sério?»

«Claro que sim: as feias.»




José António Abreu @ 13:07

Seg, 17/10/11

 Diz: «A inteligência feminina é uma questão hormonal. Epidérmica, até.»

«Desculpa?»

«No início de uma relação, enquanto o sexo é bom, ou enquanto se espera que haja sexo, quase tudo o que as mulheres dizem é interessante. Mais tarde, ainda que continuem a dizer o mesmo, já são apenas chatas.»

«Uau. E os homens? Não há homens a quem reconheças inteligência? Isso deve-se a quê?»

Deixa escapar um sorriso, antecipando a piada.

«Provavelmente ao facto de nunca ter mantido relações com eles.»